domingo, 24 de outubro de 2010

Presidios, um tema atual

Escrever sobre presídios é sempre um tema polêmico e, ao mesmo tempo, indissociável de uma comparação com as nossas casas prisionais. Numa viagem aos Estados Unidos, em 1984, visitei dois presídios em Nashville, no estado do Tenessee: um masculino e outro feminino. Fiz a mesma pergunta em ambos: qual o preso mais "ilustre" cumprindo pena? No masculino estava o ex-governador do estado, Ray Blanton, condenado por vender anistias a presos e licenças para o comércio de bebidas alcoólicas; no feminino, uma advogada que operava a venda, em parceria com o citado governante. O presídio masculino, inaugurado em 1898, foi fechado em 1996 e lá também se encontrava preso o assassino do Martin Luther King, James Earl Ray, condenado a prisão perpétua, mas isolado na área dos sentenciados à cadeira elétrica. Caminhei no "corredor da morte" até a sala de execuções e lá estava aquele assento mortal. Vê-lo dá arrepios. Nos EUA, os presídios, quando são superados em sua capacidade de abrigar sentenciados ou os prédios se tornam obsoletos, a decisão é bem simples. São fechados e tornam-se atração turística, como Alcatraz ou o do Tenessee. No Brasil, a carência de uma política prisional que vise uma recuperação social dos apenados desemboca nas imagens chocantes de homens e mulheres vivendo como animais enjaulados. O empresário gaúcho Henrique Sanfelice, que matou sua mulher, a jornalista Beatriz Rodrigues, condenado a 19 anos de prisão, fugiu do Brasil e está preso na Espanha, mas luta na Justiça para ficar por lá. Ele conhece o que lhe espera por aqui. O mesmo vale para o exbanqueiro Salvatore Cacciola, cumprindo pena na Penitenciária de Bangu 8, considerada uma prisão VIP para presos com curso superior. Mesmo assim, o ex-dono do Banco Marka, se pudesse, teria preferido seu isolamento no presídio do Principado de Mônaco que, comparado às nossas casas prisionais, era um hotel 5 Estrelas. A cela de Cacciola tinha vista para o mar Mediterrâneo. Há quem diga que as penitenciárias brasileiras só poderão ser comparadas às do Primeiro Mundo quando a turma que rouba e mata, mas que veste camisas de colarinho branco, se convencer que ninguém é impune e muito menos está acima da lei, mesmo podendo pagar excelentes advogados. Se o Congresso Nacional tivesse apenas "fichas limpas" teríamos leis obrigando o Estado a construir presídos para seres humanos.

Rogério Mendelski - Jornal Correio do Povo, 24/10/2010 p.7
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