quarta-feira, 12 de agosto de 2015

O Analfabeto Político

O pior analfabeto é o analfabeto político. 
Ele não ouve, não fala nem participa dos acontecimentos políticos. 
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política.
Não sabe, o imbecil, que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, o assaltante e o pior de todos os bandidos, que é político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais
Bertold Brecht

terça-feira, 31 de março de 2015

Valor de um mandato

Jamais encontrei alguém - especialista ou protagonista - para explicar de maneira convincente o mistério mais transparente do mundo: por que, na obtenção de um emprego, se gasta mais do que se receberá como remuneração? Para conquistar o cargo de deputado federal é preciso, em tese, investir mais do que se chegará a ganhar legalmente. Qual a lógica disso? A resposta cínica é simples: porque alguém paga a conta. Por exemplo, as empreiteiras. Por que pagam? Porque querem e levam algo em troca. Se for assim, o fundamento da coisa está podre desde sempre. É aceitável que seja essa a base?
Segundo os jornais, com base nas informações oficiais, os gaúchos José Otávio Germano, Jeronimo Goergen e Luís Carlos Heinze gastaram 13,7% da despesa total dos 31 eleitos do Rio Grande do Sul. Investiram, respectivamente, R$2,9 milhões, R$2,7 milhões, R$2,5 milhões. A mídia dos demais eleitos foi R$1,2 milhão. Volto à pergunta inicial: por que alguém gasta R$3 milhões para obter um emprego que não paga oficialmente o suficiente para se recuperar em 48 meses de trabalho metade do investido? Resposta pretensamente sábia: o poder compensa. Como? Irregularmente? Engevix, Grupo Odebrecht, Queiroz Galvão e Andrade Gutierrez financiaram parte das campanhas dos gaúchos citados e presentes na lista de Rodrigo Janot.
Em princípio, tudo regular. Mas é justamente de princípio que se trata: se uma empresa aceita gastar tanto para eleger um deputado é porque espera algo em troca suficiente para compensar o valor que foi gasto e muito mais. O quê? Quando? Em que proporções? O eleito, nesse caso, está desde o começo a serviço de quem pagou a sua conta? Se está, não é representante da população, mas de quem o financiou. Ou devemos acreditar que as empresas, prestadores de serviços ao Estado, ajudam nas campanhas por idealismo e amor à democracia?
Partes interessadas devem sempre se declarar impedidas de participar de processos que possam beneficiá-las e prejudicar terceiros. Na democracia das empreiteiras, vigente no Brasil, as empresas que praticamente só fazem negócios com o Estado financiam a eleição dos que fixarão as regras do jogo. A população é convidada a acreditar que não há problema nisso. Nos EUA, normalmente apresentados como modelo para republiquetas bananeiras como a nossa, isso não é permitido. Por que nesse caso o que é bom para os Estados Unidos não é bom para nós?
Talvez a explicação possa ser mais dinâmica: o que é bom para os deputados pode ser muito bom para as empresas e vice-versa, sendo que o bom para deputados e empresas pode não ser bom para os brasileiros. Um exemplo: precisamos aprovar um Código Florestal que seja bom para o agronegócio e para os deputados que representam o agronegócio. Quem se dispõe a representar esses interesses? "Eu" , "Eu também" , "Aqui, atrás, contem comigo" . Fechado. Quanto vai custar a campanha? Não se incomodem. Recurso não vai faltar. Ao trabalho.

Juremir Machado da Silva, 13/03/2015, Correio do Povo

Sergio Tomaz
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domingo, 4 de janeiro de 2015

De Palomas a Punta del Este

Postado por Juremir em 31 de dezembro de 2014 - Uncategorized
Pablo G. Malanta é colunista do jornal Meia-Noite, veículo da Rede Baita Sol, de Palomas, cuja linha editorial se destaca pelo bairrismo e pela defesa esporádica do racismo e da homofobia como valores da tradição gaudéria.
A defesa do machismo é permanente.
O jornal Meia-Noite é famoso pela manchete: “Nenhuma vítima de bombacha no tsunami da Indonésia”.
Em 2014, Meia-Noite e Rede Baita Sol não viram racismo no episódio em que a torcedora do Grêmio chamou o goleiro Aranha, do Santos, de macaco. Também não viram homofobia na pressão, que acabou em incêndio criminoso, para não acontecer um casamento gay num Centro de Tradições Gauchescas de Santana do Livramento. Também não viram, contrariando a opinião pública internacional, qualquer arbitrariedade de parte de Israel na Faixa de Gaza.
O lema da Rede Baita Sol é fazer média com o mediano.
Preconceito vira bom senso, valores familiares e senso comum passado de geração em geração.
Pablo G.  Malanta tem esse apelido por ser a única anta mala a se achar genial.
Na sua última defecada, Malanta descreveu Punta del Este como um paraíso no inferno uruguaio. Por que o Uruguai é um inferno? Malanta não explicou. Mas apresentou as qualidades do paraíso: bons pêssegos, beleza natural e ausência de uruguaios. Por que não ter uruguaios é uma qualidade? Malanta também não explicou.
Xenofobia dispensa explicações.
Ao final, destacou que Punta del Este não tem negros e que se estabeleceu uma segregação racial sem violência.
Malanta justapôs essa afirmação como uma descrição. Não estabeleceu um nexo causal explícito do tipo Punta é um paraíso por não ter negros. A lógica do texto, porém, era mesmo de justaposição, cada elemento acrescentando uma camada à precedente sem a necessidade de conectivos. Falar em segregação racial sem violência subentende algo positivo, pois negativo, ou seja, pior, seria com violência. Para bom entendedor, meia asneira basta…
Malanta pediu desculpas.
Disse que não pretendia ser racista. Na verdade, queria, como sempre, aparecer. Não é inteligente o suficiente para ter feito a justaposição sem conectivos para provocar uma confusão e poder se defender dizendo que só descreveu.
Malanta escreve mal. Atrapalhou-se com a lógica da construção do texto. Deixou vir à tona o seu preconceito. Na sua defesa, aparece que ele é casado com uma negra. Nossos senhores de escravos adoravam suas negras.
Eu, cronista do b em Palomas, nunca vou a Punta del Este. Estive lá num bailão brega-chique em que os convidados vestiam-se como pinguins e tocava sertanejo pré-universitário. Não voltei. Vou ao Rio de Janeiro e ao Nordeste. Gosto de praia com negros, pardos, brancos, pobres, ricos, todos misturados, tudo se confundindo e vibrando em comum. Em Punta, a reunião da elite branca gaúcha “que se acha” me provoca ânsia de vômito.
Não convivo bem com mais de três lacerdinhas por metro quadrado.
Preconceito? Sofisma. Preconceito é chamar negro de negrão, não chamar alemão de alemão.
O preconceito exige uma relação de dominação histórica e de humilhação consolidada.
Será que Pablo Malanta, num ato falho, revelou a razão que leva parte de tantos gaúchos a Punta del Este?
Foi uma mescla de incompetência, senilidade, vontade de aparecer, arrogância, incapacidade de escrever bem, racismo incontido e estupidez. Não faz muito, Malanta teve uma briga com um colega na Rádio Gaudéria.
– Vai gritar com tua mãe – atacou.
– Tua mãe, filho da puta – replicou o ofendido.
Como punição, Malanta passou a ter espaço dominical, visto que não tem mais fôlego para escrever diariamente, no obscurantista Meia-Noite. O outro, o provocado, com seu pé na África, foi demitido sumariamente.
Racismo e homofobia na Rede Baita Sol não geram sanções. Só distinção.
Afinal, são valores da tradição local.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Guarda compartilhada, um gesto de respeito aos filhos

No dia 26 de novembro, o Senado Federal aprovou o projeto de lei que garante a guarda compartilhada nas separações de casais com filhos menores. A decisão se põe de frente a duas questões relacionadas: o mito do amor materno e a alienação parental. A regra até então vigente tinha como base a ideia de que as mulheres são mais capazes do que os homens de cuidar de uma criança. Essa falácia prosperou com o surgimento da sociedade industrial.
Quando as grandes famílias agrícolas constituídas por pais, filhos,avós e tios foram para as cidades, elas se fracionaram em famílias nucleares, formadas apenas pelo casal e pelos filhos. Nessa nova ordem social, o pai se tornou um operário que saía de casa para garantir o sustento da família, enquanto a mãe assumia como tarefa exclusiva o cuidado da prole, gerando-se um novo paradigma: o do instinto materno, alicerce da orientação legal que atravessou os séculos XIX e XX.
O mito de que o amor pelo filho é um sentimento inerente à condição feminina aparentemente foi uma forma de a sociedade compensar a desvalorização da mulher, em particular pela sua dedicação exclusiva ao trabalho doméstico. Dessa forma, procurou negar que o amor materno, assim como o paterno, é conquistado no convívio com a criança, podendo variar de acordo com a cultura e as condições psicológicas dos pais.
Na verdade, a biologia não é suficiente para
estabelecer um vínculo de amor entre a mãe e seu filho, o mesmo valendo para o pai. Da mesma forma, não é a tolerância sexual dos pais que os capacita para exercerem as funções indispensáveis ao desenvolvimento de uma criança. O que não pode faltar a uma criança é o amor, sob pena de ela se tornar um corpo desabitado, um ser sem alma.
A guarda conferida pela lei atual a um dos genitores coloca o outro numa posição secundária em relação aos filhos, o que contribui para o estabelecimento da alienação parental. Esse fator tem demonstrado constituir-se num verdadeiro crime contra os sentimentos dos filhos e dos pais cujo convívio foi dificultado ou impedido pelo cônjuge que detinha a guarda.

Gley P. Costa
Médico psiquiatra e psicanalista
Jornal Zero Hora, 3/12/2014

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quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Bem- vindo ao poder, Sartorão da massa


O silêncio da transição gaúcha é preocupante. Estilo Sartori, é a explicação. Legítimo, mas contestável. A sociedade tem o direito - e o dever - de acompanhar o que acontece na formação do governo. Nós, cidadãos, que votamos ou não na proposta vitoriosa, estamos à deriva, enquanto nosso futuro é decidido em reuniões secretas. Há ordens e pedidos para que nada seja exposto, com a exceção de uma lista de perguntas feitas a Tarso Genro.
Quando o governador eleito deslancha um projeto de engenharia política para acomodar 12 partidos sob seu comando, a sociedade deveria saber: com quem Sartori está conversando.  Que tipos de compromissos está assumindo. Quem está sendo convidado. Quais os critérios das escolhas. Que projetos serão enviados à Assembleia. Que cara terá a máquina pública nos próximos quatro anos.
São questionamentos simples, diretos, óbvios. E mesmo que não haja resposta definitiva para eles, isso não justifica o vácuo total de comunicação.
Tenho a sensação de que o próximo governo está armando uma espécie de festa surpresa, na qual o papel dos eleitores é só pagar a conta. Nesse cenário, anúncios de nomes, de reformas e de medidas devem ficar escondidos, no escuro, para gritarem todos ao mesmo tempo quando as luzes se acenderem subitamente no fim do ano. Tomara que eu esteja enganado. Precisamos de tempo para digerir.
É compreensível que uma parte das tramas e das costuras seja feita em sigilo. Mas tudo? A tal ponto, que mesmo os nomes convidados para o secretariado - e já existem nomes - temem punição em caso de publicidade. O que há de tão secreto, de tão perigoso em se discutir publicamente a formação de um governo? Conflito zero é uma utopia se a promessa é fazer o Rio Grande avançar. José Ivo Sartori se elegeu com o slogan "Gringo que faz". Faz silêncio, por enquanto. Silêncio que autoriza a especular.
E isso não é bom.
Nem para ele, nem para ninguém.
Tulio Milman, Informe Especial, 19/11/2014

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sábado, 1 de novembro de 2014

Nossa História

Recentemente tive uma grande e inesperada perda, estou reunindo forças para contar aqui a nossa história.
Eu lhe devo isso!
Aí onde estás, fiques ciente de que não a desapontarei em seus últimos anseios e hei de proteger nosso rebento varão!

sábado, 23 de agosto de 2014

Dilma, Míriam e Roger

Deu-se no começo desta semana. Primeiro, li o assustador relato da jornalista Míriam Leitão sobre como foi torturada num quartel do Exército nos anos 70. Com 19 anos de idade, grávida, ela passou três meses sendo supliciada. Certo dia, trancaram-na numa sala totalmente escura, na companhia de uma serpente. Míriam ficou horas de pé, nua, tremendo de horror, sem saber onde rastejava a cobra, com medo de atraí-la pelo movimento.
Poucos minutos depois de ler essa história cruenta, caiu-me diante dos olhos uma inacreditável discussão virtual entre o escritor Marcelo Rubens Paiva e o músico Roger Moreira. Marcelo, além de autor do bom livro Feliz Ano Velho, é filho do deputado Rubens Paiva, que foi torturado até a morte num dos porões da repressão, também nos anos 70. A folhas tantas do bate-boca pela internet, Roger disse que sua família não sofreu durante a ditadura "porque não fez merda".
Fiquei um pouco nauseado com a frase, mas depois ponderei: as redes sociais são mesmo perigosas, as pessoas discutem como se estivessem em mesa de bar, só que não estão em mesa de bar, estão lidando com a palavra escrita. Quer dizer: com documentos. Além do mais, Roger faz oposição ao PT, o que o leva a cometer uma confusão que cometem muitos outros opositores: eles identificam o PT com tudo o que é vagamente comunista e libertário, e aí atacam tudo o que é vagamente comunista e libertário, a fim de atacar o PT. Uma bobagem. O PT não é comunista nem libertário. É outra coisa, que não cabe aqui analisar. Já na questão da luta contra a ditadura, que cabe, nisso o PT não teve nenhuma participação. O PT foi fundado quando a redemocratização já estava bem encaminhada. Nem a presidente da República, que, ela sim, pegou em armas para enfrentar a ditadura, nem ela era do PT. Dilma é petista de última hora, tendo sido arrancada não faz muito das fileiras brizolistas. A geleca que é o PMDB, por absurdo que pareça, tem bem mais a ver com a luta contra a ditadura do que o PT.
Então, suponho que Roger deva ter se arrependido das tolices que disse. Mas, no passar das horas, li que grupos de brasileiros pretendiam se manifestar pela volta dos militares ao poder. Será que se manifestaram? Não é possível... Em todo caso, talvez sejam como Roger: querem mudança, e não sabem qual.
Confesso que tudo isso me proporcionou certo desalento com os rumos do Brasil. Até que assisti à entrevista de Dilma no Jornal Nacional. Já sei de toda a repercussão que rendeu, acompanhei o debate feroz. Só que nada disso realmente importa. O que importa é que, naquela noite, em rede nacional de TV, um jornalista questionou duramente um presidente da República. A presidente que, nos anos 70, foi torturada como o foram Míriam Leitão e Rubens Paiva, essa presidente agora se sentava em frente a um jornalista e ouvia perguntas incisivas, rascantes e desconfortáveis. E Dilma não se comportou como se comportariam seus algozes. Não. Dilma pode não ter respondido a algumas questões até essenciais, mas nunca usou sua autoridade para tentar descompor ou debochar do entrevistador. Dilma foi uma democrata. E ali, naquele momento, a democracia era exercida. Ali, naquela noite, no Jornal Nacional, a democracia brasileira alcançava sua plenitude. A imprensa fazia o seu papel de cobrança severa do poder constituído, na pessoa de um presidente da República, compreendia que o presidente não é senão o primeiro servidor da nação. E dava satisfações à nação.
A entrevista do JN foi um bálsamo. Não interessam os impulsos bolivarianos de setores do governo, não interessam as manifestações obtusas dos saudosos da ditadura, o Brasil é uma democracia. Me senti feliz por ser brasileiro.

David Coimbra
jornal Zero Hora
22/08/2014

sexta-feira, 26 de abril de 2013