quarta-feira, 14 de julho de 2010

Por que o homem mata?

É a única pergunta que tenho me feito nos últimos dias. Tenho procurado fazê-la também a psicanalistas. É claro que estou sob o impacto do crime atribuído ao goleiro Bruno e aos seus amigos. A frieza de Bruno nas imagens de televisão me choca. Não paro de pensar no assunto. As respostas a essa pergunta tão velha quanto a humanidade são muito fracas ou limitadas: o homem mata por necessidade, mata para se defender, mata pelo poder, mata por vingança, mata por medo, mata por irracionalidade, mata por arrogância, mata por perversão, etc. Todas essas possibilidades são verdadeiras, mas são incompletas. Se, de fato, Bruno mandou matar a amante, não foi por alguma dessas razões. Ou foi por todas elas? Necessidade de ver-se livre de um obstáculo? Vingança, medo, arrogância. Pode ser. Deve ter algo mais. O quê?
O ser humano é um dos animais mais fracos do planeta. E um dos mais destrutivos. Não, não, é o mais destrutivo, o mais cruel, o mais violento e o mais irracional. Mata por prazer. Também por prazer. Mata futilmente. Eis uma boa definição para homem: ser capaz de matar com extrema perversidade por um motivo fútil. Ou por ganância. numa conversa rápida, por telefone, o psicanalista Abraão Slavutski me disse que os criminosos acham que não serão descobertos. É isso. O sujeito sempre se acha mais esperto. Acredita ter cometido o crime perfeito. Age na certeza da impunidade. Essa hipótese é terrível. Significa não ter consciência. poder dormir tranquilamente sem ser incomodado pelo peso de um crime. É hediondo. E muito comum. Praticar um crime com vários cúmplices acrescenta um problema: o criminoso fica nas mãos dos seus parceiros, que poderão fazer chantagem.
Uns estão nas mãos dos outros? No caso de Bruno, ele sempre teve mais a perder do que os seus amigos. Outra hipótese menos sofisticada para tais crimes é esta: o homem mata por burrice e egoísmo. Mata por não pensar. Não pensar direito. Acredita piamente que não será descoberto. Deixa muitos rastros, pratica o inominável com parceiros mais do que pouco confiáveis, crê, mesmo assim, que tudo dará certo. No crime que envolve Bruno e sua tropa de choque, a estupidez começou a desmoronar justamente por causa de uma consciência chocada, a do adolescente que ficou impressionado com as imagens que diz ter visto e não conseguiu mais se calar. A barbárie sempre deixa um furo, uma brecha, uma marca de sangue.
A imagem mais impressionante nisso tudo até agora é a da tatuagem nas costas do tal macarrão: "Bruno e Maka: 'A amizade nem a força do tempo irá destruir esse amor verdadeiro'". Não é o provável conteúdo homossexual da citação, obviamente, que impacta, mas justamente o oposto, que sugere um estranho pacto entre protetor e protegido. Eu só penso na exclamação do personagem de Conrad em "Coração das Trevas": "O horror! O horror!". O horror na "sociedade do espetáculo", o horror da cabeça erguida de Bruno para as câmeras de televisão. Será que os homens também matam por tédio? Ou somente pela estupidez natural de que somos todos constituídos?


Juremir Machado da Silva - Jornal Correio do Povo, 14/07/2010
juremir@correiodopovo.com.br

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