domingo, 8 de agosto de 2010

Caro Dunga

Minha solidariedade, Dunga. Tú foste genial. Eu me tornei definitivamente teu fã. A eliminação contra a Holanda não abalará em coisa alguma a minha admiração. Tú és ingênuo, Dunga. Quiseste ganhar com base na seriedade, na lealdade e no caráter. Tiveste a coragem de dizer sempre a verdade e de enfrentar os mais poderosos. Cometeste erros, Dunga, mas isso é normal. Só os cretinos imaginam fazer tudo certo. Deixaste de fora alguns meninos talentosos, Dunga, e o velho Ronaldinho Gaúcho. Tiveste boas razões para isso. Tú havias ganhado tudo com o grupo que levaste à Copa. Desejavas valorizar os teus comandados e vencer ou perder com eles. És um capitão de navio à moda antiga. Aceitaste afundar com teu navio. Tua vitória teria sido uma revolução nos costumes. Que pena!
É verdade que não apostaste na beleza. Outros, no entanto, ganharam sem beleza alguma e tampouco sem tua valentia e tua nobreza rude. A derrota foi o resultado de alguns erros que podem acontecer com qualquer um: um gol contra de Felipe Melo, uma agressão boba de Felipe Melo, que determinou sua expulsão, e a perda do controle emocional pelo time todo. O mesmo Felipe Melo, entretanto, deu o lindo passe do gol do Robinho. Estiveste a um passo da glória, Dunga. Agora, voltaste, apesar dos triunfos anteriores, a ser um desgraçado, um maldito, um desprezado. Conheço isso, Dunga. Por mais que tú venças, serás sempre um perdedor. É tua sina. Os donos do mundo não suportam a tua franqueza, que chamam de arrogância. Detestam tua transparência, que os impede de conceder privilégios e de fazer negociatas na tua cara.
Foste um exemplo, Dunga. O mundo, porém, não está preparado para a tua vitória. Espero que esteja para a de Maradona, técnico antagônico e complementar a ti, mas não acredito. Tomara que eu me engane. Foste bravo, Dunga, impávido, colosso. Não mandaste Felipe Melo pisar no adversário. Buscaste o equilíbrio. Apostaste no talento de Kaká e Robinho. Sonhaste com a beleza. Ela não sorriu para ti. A mídia te condenou por não teres feito o jogo dela. Viste o jogo como um jogo e tudo fizeste para alcançar os teus objetivos. Não compreendeste que o jogo é também um teatro no qual alguns devem sempre figurar nos camarotes. Até o teu sotaque incomodou, Dunga, neste país onde os que debocham do teu sotaque têm sotaques tão ou mais caricaturais. Tiveste personalidade, Dunga. Isso é imperdoável. Há muita gente feliz agora. Teus inimigos podem sorrir triunfantes e sentenciar: "Eu não disse...".
Nós, os ruins, os ressentidos, os malditos, os perdedores, apesar de todas as nossas vitórias, estamos contigo Dunga. Somos os teus representantes por toda parte. Tinhas razão, Dunga: boa parte da mídia estava dividida, torcendo pelo Brasil e, ao mesmo tempo, te secando. Para vencer neste mundo, Dunga, é preciso aprender a ser hipócrita. Tú nunca conseguirás. Tuas vitórias serão sempre laboriosas. Tuas derrotas te marcarão mais. Tú, ao contrário de outros, não te escondes jamais. Aceita, caro Dunga, meus cumprimentos.

Juremir Machado da Silva - Jornal Correio do Povo, 03/07/2010 

Segurança Pública

Sempre em período eleitoral, discute-se a trilogia saúde, educação e segurança.
Sempre que ocorrem crimes de repercussão, questiona-se a falta de policiais em atuação preventiva.
Debate-se segurança periodicamente a cada dois anos, pois temos pleito eleitoral de dois em dois anos. Fala-se em segurança em período de eleições municipais mesmo que os municípios não legislem sobre isso.
As respostas são as mais variadas possíveis aos questionamentos sobre a presença/ausência de policiais nas ruas. E o que mais se ouve dos responsáveis é que seria impossível ter um policial em cada esquina.
Lembrei- me disso nesta semana ao caminhar pelo bairro Praia de Belas da Av Ipiranga até a R Br do Cerro Largo.
O fato me chamou a atenção.
Havia, neste trajeto, justamente, um PM em cada esquina.
Então, a cidade pode, sim ser mais segura.
Basta ter vontade política e nossa vida será melhor, sem dúvida!    

A Volta do Curral

Quase todo político sonha com a volta dos currais eleitorais. Nada como ter um dócil rebanho à disposição. É a democracia agropastoril. A candidata Dilma Rousseff declarou que, se eleita, apostará tudo no voto em lista fechada. É a síndrome da mangueira. Quase todo político quer financiamento público e voto em lista fechada. Isso significará, para os donos dos partidos e seus amigos, não ter mais de correr atrás de dinheiro e de votos. A grana sairá dos nossos bolsos e os votos virão no pacote. Bastará colocar uma celebridade qualquer nos primeiros lugares de uma lista para puxar votos para o bando todo. O sistema atual é cheio de defeitos: privilegia os mais ricos e poderosos, aqueles que têm mais acesso aos cofres das empreiteiras e outras empresas de espírito desinteressado, e facilita a eleição de aventureiros. O sistema preconizado por Dilma e por quase todos os partidos tem muito mais defeitos ainda. Pode?
Os poderosos continuarão tendo acesso aos cofres das empresas amigas. Será a consagração do caixa dois privado . Votaremos em fulano e elegeremos mais quatro ou cinco pulhas indigestos. Hoje, em parte, isso já acontece em função do tal quociente eleitoral. Quem faz muitos votos repassa parte deles , depois de atingido o coeficiente para ser eleito, aos companheiros de partido. Vota-se em "a" e elege-se "b" de carona. Um candidato de um partido pode fazer mais votos do que o de outro e ficar de fora. O "novo" sistema é pior. Dá aos partidos o poder total de posicionar os candidatos. A solução é simples demais. por isso, certamente, não é adotada: basta fixar o número de cadeiras e declarar vencedores os indivíduos que fizeram mais votos, em ordem decrescente. Haverá quem se eleja com um milhão de votos e quem se eleja com mil. Isso já acontece atualmente. Em compensação, ninguém passará na frente dos mais votados.
Os políticos mais ardilosos dirão que um candidato eleito com 1 milhão de votos terá mais legitimidade do que um eleito com mil. É o que já acontece. Na prática, depois de eleitos, não interessa o placar. Outro argumento é de que um partido com mais votos, mal distribuídos entre os candidatos, poderá ter menos eleitos do que outro partido com menos votos, o que geraria uma distorção na representação. Conversa. Vivemos em sociedades individualistas e democráticas. Cada cabeça, um voto. Cada voto deve ter o mesmo peso e valer só para quem o recebeu. Os partidos devem ser meros sinalizadores de que as pessoas neles reunidas pensam de maneira semelhante e defendem determinados projetos. Nada que fortaleça demais os partidos pode ser bom no Brasil. Afinal, precisamos evitar a formação de quadrilhas.
Se o sistema em lista fechada for adotado, só haverá uma saída: uma nova revolução de 30. Teremos de ressuscitar Getúlio Vargas e convencer mineiros e paraibanos a nos acompanhar nessa nova aventura. Espero que os paulistas escolham o lado certo desta vez. Ou passarão mais algumas décadas longe do poder. Os revolucionários de 30 lutaram contra a fraude eleitoral, o caciquismo e as manipulações das listas. Há 80 anos.

Juremir Machado da Silva - Jornal Correio do Povo, 02/07/2010

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Dilma quer um xaveco, o voto de lista

"Na sua entrevista ao programa "Roda Viva", a candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, defendeu a convocação de uma constituinte exclusiva para discutir e votar projetos de reformas política e tributária. Acrescentou que gostaria de encaminhar essas reformas logo no início do seu eventual mandato.
No que se refere à reforma tributária, recusou qualquer compromisso de reduzir a carga que atualmente está em 32% do PIB. Ela propõe um remanejamento dos impostos que pode até dar certo.
Quanto a reforma política, foi precisa: defende o voto de lista e o financiamento público das campanhas. Por enquanto, mais nada.
Louvem-se a precisão e a sinceridade da candidata. Desde já, fica todo mundo avisado de que, se esse projeto prevalecer, a eleição deste ano será a última na qual os brasileiros votarão nominalmente nos seus candidatos à Câmara dos Deputados e às Assembleias Legislativas. Pelo sistema atual, o cidadão indica seu preferido. Às vezes ele é eleito, às vezes não. Quando um candidato não atinge o quociente de seu partido, seus votos são derramados noutro nome. Na última eleição, o paulista que votou em Delfim Netto elegeu Michel Temer. Talvez não fosse isso que quisesse, mas restou-lhe a certeza de que preferia Delfim e nele votou.
Pelo sistema de lista, os partidos arrolam os candidatos, determinando a ordem de precedência numa. O cidadão vota só na sigla. Quem defende esse sistema argumenta que assim se fortalece o sistema partidário.
É preciso muita imaginação para acreditar que, no PT presidido por José Genoíno, comandado por José Dirceu e entesourado por Delúbio Soares, as cúpulas partidárias mereciam esse crédito. O PTB, por exemplo, é presidido pelo grão-serrista Roberto Jéfferson.
O PT refluiu para a defesa da centralização das escolhas eleitorais depois que foi para o poder. Antes, realizava até prévias. Neste ano, Lula esmagou todas as tentativas de consulta às bases companheiras. Na outra ponta, José Serra detonou em silêncio a proposta de prévias defendida por Aécio Neves. (Quem sabe, começou a se arrepender.)
Duas propostas para a adoção do sistema de listas já foram derrotadas na Câmara. Isso não faz a menor diferença para o comissariado petista. Afinal, no rastro da maioria obtida numa eleição presidencial. aprovou-se até o Plano Collor.
Enquanto  Dilma Rousseff e o PT querem fechar o sistema eleitoral, na democracia mais vigorosa do mundo assiste-se a uma revolta popular contra as caciquias  dos dois partidos. Se os marqueses do Democrata tivessem o poder que lhes era dado há 30 anos, Hillary Clinton estaria na Casa Branca.
Uma miniconstituinte convocada em cima do desfecho semiplebiscitário da eleição presidencial não chega a ser um chavismo, mas será um xaveco que mudará, para pior, o formato das instituições políticas brasileiras. Pelo andar da carruagem, o resultado da próxima eleição poderá estimular um surto legiferante para otras cositas más. Ainda bem que Dilma Rousseff está expondo, desde logo, sua plataforma básica.
Em tempo: José Serra nunca condenou ou defendeu o voto de lista, pois o xaveco tem boas simpatias no tucanato."

Elio Gaspari, opinião - Jornal Correio do Povo - 30/06/2010

domingo, 1 de agosto de 2010

Nova lei propõe aumento de 30% para vigias e porteiros no País

Os condomínios podem ficar mais caros no País. Foi enviado à  Câmara dos Deputados o projeto de lei 493/09, que propõe um aumento de 30%  no salário de porteiros e vigias. O reajuste consiste num adicional de periculosidade, já previsto na CLT, e que agora pode ser ampliado para empregados de condomínios residenciais. Funcionários de empresas terceirizadas também terão direito ao adicional.
O projeto, de autoria do Senador Marcelo Crivella(PRB-RJ), foi aprovado em decisão terminativa, na semana passada, pela Comissão de Assuntos Sociais do Senado. Para garantir o adicional de periculosidade, o PL 493/09 acrescenta um parágrafo ao artigo 193 da Consolidação das Leis do Trabalho(Decreto-Lei nº5452, de 1943).
No texto, o Sen. Crivella afirma que "tem sido uma constante no noticiário dos jornais a ação de criminosos, principalmente em prédios de apartamentos residenciais, que conseguem adentrar para a pratica de roubo e assalto, dominando ou mesmo assassinando porteiros ou vigias que se opõem à sua sanha".
De acordo com a relatora da matéria, Senadora Rosalba Ciarlini(DEM-RN), que defendeu a sua aprovação com emendas, a concessão do adicional pode não salvar vidas, mas representa uma compensação para as tensões diárias sofridas por porteiros, vigilantes e seguranças de prédios residenciais e comerciais constituídos em condomínios.
A possibilidade do aumento cria expectativas entre as categorias atingidas. "Isso virá em favor dos trabalhadores que atuam na defesa do patrimõnio de terceiros", afirmou Edison Artur da Silva Feijó, presidente do Sindicato dos Empregados em Edifícios e Condomínios, Residenciais, Comerciais e Similares do Estado do Rio Grande do Sul(SINDEF-RS). No Estado, o piso dos funcionários de edkorskyifícios é de R$576,66, acrescido de um adicional de 20% para horários noturnos.
No entanto, o adicional aprovado pelo Senado pode aumentar os gastos dos moradores de edifícios. Para o advogado Márcio Rachkorsky, especialista em direito imobiliário, a folha de pagamento já representa atualmente de 50% a 80% das despesas dos prédios. Com o adicional proposto no Congresso, o condomínio dos moradores pode ter uma elevação entre 15% e 20%. "O impacto será maior para os habitantes de prédios pequenos, com poucos apartamentos, mas com quadro funcional completo", destacou.
Segundo Rachkorsky, embora as categorias contempladas pelo aumento mereçam reconhecimento, os acordos poderiam ser feitos gradualmente com os condomínios e empresas. "Do jeito que se planeja, uma imposição de cima para baixo, ele pode até gerar demissões por corte de gastos", afirmou. O advogado acredita que o projeto não trará mudanças que aumentem a segurança dos condomínios. Para isso, seria necessário investir em treinamento para os profissionais e não somente em maiores salários.


Marcelo Beledeli - Jornal do Comércio, Economia p12, 26/07/2010.
marcelo@jornaldocomercio.com.br

MÃE

Um dia, quando os meus  filhos forem crescidos o suficiente para entenderem a lógica que motiva os pais e as mães, eu hei de dizer-lhes:
- Eu os amei o suficiente para ter perguntado; aonde vão, com quem vão e a que horas regressarão?
- Eu os amei o suficiente para não ter ficado em silêncio e fazer com que vocês soubessem que aquele novo amigo não era boa companhia.
- Eu os amei o suficiente para os fazer pagar as balas que tiraram da mercearia e os fazer dizer ao dono. "Nós roubamos isto ontem e queríamos pagar"
- Eu os amei o suficiente para ter ficado em pé junto de vocês 2 horas, enquanto limpavam o seu quarto; tarefa que eu teria realizado em 15 minutos!
- Eu os amei o suficiente para os deixar ver além do amor que eu sentia por por vocês, o desapontamento e e também as lágrimas nos meus olhos.
- Eu os amei o suficiente para os deixar assumir a responsabilidade das suas ações, mesmo quando as penalidades eram tão duras que me partiam o coração.
- Mais do que tudo, eu os amei o suficiente para dizer-lhes não, quando eu sabia que vocês poderiam me odiar por isso. Essas eram as mais difíceis batalhas de todas.
- Estou contente, venci porque no final vocês venceram também!
E qualquer dia, quando meus netos forem crescidos o suficiente para entenderem a lógica que motiva os pais e as mães, meus filhos vão lhes dizer quando eles lhes perguntarem se sua mãe era má:
- "Sim"... Nossa  mãe era má. Era a mãe mais má do mundo. As outras crianças comiam doces no café e nós tínhamos de comer cereais, ovos e torradas.
- As outras crianças bebiam refrigerantes e comiam batatas fritas e sorvete no almoço e nós tínhamos de comer arroz, feijão, carne, legumes e frutas.
- E ela obrigava-nos a jantar à mesa, bem diferente das outras mães, que deixavam os filhos comerem vendo televisão.
- Ela insistia em saber onde nós estávamos a toda hora: era quase uma prisão.
- Mamãe tinha que saber quem eram nossos amigos e o que fazíamos com eles.
- Insistia que lhes disséssemos que íamos sair, mesmo que demorássemos só uma hora ou menos.
- Nós tínhamos vergonha de admitir, mas ela violou as leis de trabalho infantil. Nós tínhamos de lavar a louça, fazer as camas, lavar a roupa, aprender a cozinhar, aspirar o chão, esvaziar o lixo e todo o tipo de trabalhos cruéis. Eu acho que ela nem dormia a noite, pensando em coisas para nos mandar fazer.
- Ela insistia sempre conosco para lhe dizermos a verdade, e apenas a verdade. E quando éramos adolescentes, ela até conseguia ler os nossos pensamentos. A nossa vida era mesmo chata.
- Ela não deixava os nossos amigos tocarem a buzina para que nós saíssemos. Tinham de subir, bater à porta para ela os conhecer.
- Enquanto todos podiam sair à noite com 12, 13 anos, nós tivemos de esperar pelos 16.
- por causa de nossa mãe, nós perdemos imensas experiências da adolescência. Nenhum de nós esteve envolvido em roubos, atos de vandalismo, violação de propriedade, nem fomos presos por nenhum crime.
- Foi tudo por CAUSA DELA. Agora que já saímos de casa, nós somos adultos, honestos e educados, estamos a fazer o nosso melhor para sermos "pais maus", tal como a nossa mãe foi.
- Eu acho que este é um dos males do mundo de hoje: Não há suficientes MÃES MÁS...




Autor desconhecido

sexta-feira, 23 de julho de 2010

História não é maconha, para ser queimada

"A professora Sílvia Hunold Lara, da Unicamp, pede que o congresso socorra a História do Brasil. Há cerca de um mês uma comissão de sábios entregou ao Senado um anteprojeto de reforma do Código de Processo Civil que prevê a incineração, depois de cinco anos, de todos os processos mandados ao arquivo. Querem reeditar uma piromania de 1973, revogada dois anos depois pelo presidente Ernesto Geisel.
Se a História do Brasil for tratada com o mesmo critério que a Polícia Federal dispensa à maconha, irão para o fogo dezenas de milhões de processos que retratam a vida dos brasileiros, sobretudo daqueles que vivem no andar de baixo, a gente miúda do cotidiano de uma sociedade. Graças à preservação dos processos cíveis dos negros do século XIX conseguiu-se reduzir o estrago do Momento Nero de Rui Barbosa, que determinou a queima dos registros de escravos guardados na tesouraria da Fazenda.
Queimando-se os processos cíveis, virarão cinzas os documentos que contam partilhas de bens, disputas por terras, créditos e litígios familiares. É nessa papelada que estão as batalhas das mulheres pelos seus direitos, dos posseiros pelas suas roças, as queixas dos esbulhados. Ela vale mais que a lista de convidados da Ilha de Caras ou dos churrascos da Granja do Torto.
 A teoria do congestionamento dos arquivos é inepta. Eles podem ser microfilmados ou preservados digitalmente. Também podem ser remetidos à guarda de instituições universitárias. O que está em questão não é a falta de espaço, é excesso de descaso pela história do povo. Pode-se argumentar que os processos com valor histórico não iriam ao fogo, mas falta definir "valor histórico". Num critério estritamente pecuniário, quanto valeria o contrato de trabalho assinado nos anos 50 por uma costureira negra de Montgomery, no Alabama? Certamente menos que um manuscrito de Roger Taney, o presidente da Corte Suprema dos Estados Unidos que deu o pontapé inicial para a Guerra Civil. Engano. Uma simples fotografia autografada de Rosa Parks, a mulher que desencadeou o boicote às empresas de ônibus de Montgomery e lançou à fama um pastor de 29 anos chamado Martin Luther King, vale hoje US$2500. O manuscrito encalhado de Taney sai por US$1000.
O trabalho dos sábios incineradores está com o presidente do Senado, José Sarney, cuidadoso curador de sua própria memória e membro da Academia Brasileira de Letras. Como presidente da República, autorizou a queima dos arquivos da Justiça do Trabalho. Com isso, mutilou a memória das reclamações de trabalhadores, de acordos, greves e negociações coletivas.
A piromania é fruto do desinteresse, não da fatalidade. O STF, os Tribunais de Justiça de São Paulo, do Rio de Janeiro e de Rondônia, bem como o TRT do Rio Grande do Sul, acertaram-se com arquivos públicos e universidades para prevenir o incêndio.
Há mais de uma década a desembargadora Magda Biavaschi batalha na defesa dos arquivos trabalhistas, mas pouco conseguiu. Lula ainda tem mandato suficiente para agir em relação à fogueira trabalhista e para alertar sua bancada na defesa dos arquivos cíveis. Milhares de processos estimulados pelas lideranças sindicais dos anos 70, quando ele morava no andar de baixo, já viraram cinzas."

Élio Gaspari - Correio do Povo, 21/07/2010

Coerência Política(ou falta de)

A política brasileira tem uma característica muito peculiar: é incoerente por natureza.
As verdades e convicções de hoje, amanhã serão as mais cínicas mentiras.
Aqueles que hoje pregam coerência, eles sempre agiram assim?
O Dep Collares, por exemplo, não pode ser considerado um político coerente, pois sempre exculachou o Partido dos Trabalhadores; eu mesmo fui hostilizado por ele certa feita, em evento comum, por usar um botton do PT.
Todavia, é corajoso ao assumir a postura de se colocar contra o partido, abrindo voto ao adversário na atual corrida eleitoral.
Em nome da coerência(?!).
Adversário este que ele execrou em outras eleições.
E a coerência?
Por outro lado, a pretensão do seu partido em querer expulsá-lo, foi no mínimo ridícula, afinal quem votaria pela expulsão de um exgovernador?
Naturalmente, faltou brio aos seus pares partidários para tal decisão e esta foi passada para a cúpula nacional.
Deu em nada, o deputado continuará fazendo campanha para o adversário, mesmo que o seu partido tenha candidato na chapa majoritária para a mesma disputa.
Efeito PauloFeijó!

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Por que o homem mata?

É a única pergunta que tenho me feito nos últimos dias. Tenho procurado fazê-la também a psicanalistas. É claro que estou sob o impacto do crime atribuído ao goleiro Bruno e aos seus amigos. A frieza de Bruno nas imagens de televisão me choca. Não paro de pensar no assunto. As respostas a essa pergunta tão velha quanto a humanidade são muito fracas ou limitadas: o homem mata por necessidade, mata para se defender, mata pelo poder, mata por vingança, mata por medo, mata por irracionalidade, mata por arrogância, mata por perversão, etc. Todas essas possibilidades são verdadeiras, mas são incompletas. Se, de fato, Bruno mandou matar a amante, não foi por alguma dessas razões. Ou foi por todas elas? Necessidade de ver-se livre de um obstáculo? Vingança, medo, arrogância. Pode ser. Deve ter algo mais. O quê?
O ser humano é um dos animais mais fracos do planeta. E um dos mais destrutivos. Não, não, é o mais destrutivo, o mais cruel, o mais violento e o mais irracional. Mata por prazer. Também por prazer. Mata futilmente. Eis uma boa definição para homem: ser capaz de matar com extrema perversidade por um motivo fútil. Ou por ganância. numa conversa rápida, por telefone, o psicanalista Abraão Slavutski me disse que os criminosos acham que não serão descobertos. É isso. O sujeito sempre se acha mais esperto. Acredita ter cometido o crime perfeito. Age na certeza da impunidade. Essa hipótese é terrível. Significa não ter consciência. poder dormir tranquilamente sem ser incomodado pelo peso de um crime. É hediondo. E muito comum. Praticar um crime com vários cúmplices acrescenta um problema: o criminoso fica nas mãos dos seus parceiros, que poderão fazer chantagem.
Uns estão nas mãos dos outros? No caso de Bruno, ele sempre teve mais a perder do que os seus amigos. Outra hipótese menos sofisticada para tais crimes é esta: o homem mata por burrice e egoísmo. Mata por não pensar. Não pensar direito. Acredita piamente que não será descoberto. Deixa muitos rastros, pratica o inominável com parceiros mais do que pouco confiáveis, crê, mesmo assim, que tudo dará certo. No crime que envolve Bruno e sua tropa de choque, a estupidez começou a desmoronar justamente por causa de uma consciência chocada, a do adolescente que ficou impressionado com as imagens que diz ter visto e não conseguiu mais se calar. A barbárie sempre deixa um furo, uma brecha, uma marca de sangue.
A imagem mais impressionante nisso tudo até agora é a da tatuagem nas costas do tal macarrão: "Bruno e Maka: 'A amizade nem a força do tempo irá destruir esse amor verdadeiro'". Não é o provável conteúdo homossexual da citação, obviamente, que impacta, mas justamente o oposto, que sugere um estranho pacto entre protetor e protegido. Eu só penso na exclamação do personagem de Conrad em "Coração das Trevas": "O horror! O horror!". O horror na "sociedade do espetáculo", o horror da cabeça erguida de Bruno para as câmeras de televisão. Será que os homens também matam por tédio? Ou somente pela estupidez natural de que somos todos constituídos?


Juremir Machado da Silva - Jornal Correio do Povo, 14/07/2010
juremir@correiodopovo.com.br

Bruno Fernandes

Lamentável esse episódio envolvendo o goleiro do CR Flamengo, o jovem Bruno.
Há algum tempo vinha acompanhando a carreira desse jogador, pois achava-o um excelente profissional, muito focado no objetivo, no cumpromento das metas.
Era seu fã, torcia por seu sucesso e, oxalá, queria vê-lo jogando no meu time.
Então, um dia, meu mundo caiu.
Em defesa de um colega que brigara com sua amasia, veio a publico minimizar o ocorrido. Até aí tudo bem, não fosse o argumento que ele usou, em rede nacional, para justificar as mútuas agressões entre aquele casal.
Mas, o que disse nosso personagem?
"- bater em mulher é normal, afinal quem nunca saiu no tapa com sua companheira?"
Quem agride, mata.
Pois, assim como a maconha é porta de entrada para outras drogas mais pesadas, o tapa é entrada para agressões mais fortes como ceifar uma vida.
Fiquei muito decepcionado com esse cidadão.
Não tenho como presumir sua inocência em conversas de amigos., pois sua frieza ante tudo que é exposto, é assustadora.
Sua sorte é que será julgado de acordo com as leis brasileiras, então, talvez, nem cumpra a pena...