segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Por que chorar?

"A noite daquele sábado já ia adiantada. Decidi parar na lanchonete próxima à residência. Mal entrei, o amigo  estendeu as mãos em minha direção e começou a falar: "Frei, pode marcar, eu vou ficar doente. Eu já não suporto mais. O Grêmio pode ir para a segunda divisão. E eu irei com ele. Até a pé nós iremos, para o que der e vier...Tem mais: nós já fomos para a Segunda Divisão e retornamos, ressuscitamos na Batalha dos Aflitos e voltamos mais fortes para a Primeira Divisão. Outros times fizeram a mesma coisa. Segunda Divisão não teria problema algum para nós, gremistas. Porém, Frei, eles serão campeões de novo.Éssa é uma dor que penetra fundo demais. E isso é insuportável. Eu já sei, ficarei doente. O senhor terá que ir me visitar no hospital. E se puder, me arrume um emprego numa emissora de rádio da Serra, que irei de mala e cuia para lá."
Outro amigo meu comentava: "Frei, quando o Inter joga à noite, eu me ponho na cama mais cedo, na esperança de ter um sono tranquilo, sem interrupção. Entende o que eu quero dizer? Penso que ele perderá. Lá pelas tantas, eu acordo com um grande rumor em toda a cidade. Ligo o rádio e, para minha desgraça, fico sabendo: o Inter ganhou mais uma. Não quero acreditar no que ouço. Eu me belisco. Lá fora, a escuridão confirma que é noite. Penso estar sonhando. E o pesadelo retorna. Amanhã, outro dia surgirá e eu deverei aguentar no osso as observações dos meus amigos".
Se dependesse de uma amiga da Capital, a cor vermelha não existiria mais.
Enquanto o assunto é futebol,tudo bem. Porém, isso, ocorre em outras circunstâncias. Por que chorar pelas vitórias alheias? Como justificar nossa alegria ser maior pela derrota dos outros do que por suas conquistas?


Frei Irineu Costella, coluna Ponto de Vista, jornal Diário Gaúcho - 17/08/2010   

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